CELINA BORGES DOS REIS MONIZ DE ARAGÃO
( BRASIL – BAHIA )
Procuradora Federal aposentada. Advogada, ex-professora primaria no Estado da Bahia. É membro correspondente de jornais do Brasis e do Exterior. Foi referência na coluna “Livros e Autores”, Jornal dos Professores . pag. 7, São Paulo (set. de 1993). É neta do historiador baiano Alexandre Borges dos Reis, um dos fundadores da Academia de Letras da Bahia. É Rotariana do Clube Saúde – Rio de Janeiro/RJ Distrito 4570. Reside no Rio de Janeiro.
ANTOLOGIA DEL SECCHI, 2005. Organização Roberto de Castro Del´Secchi. Rio de Janeiro: Del´Secchi, 2005. 328 p. 14 x 21 cm ISBN 85-8649-14-3 No. 10 231
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda, doação do amigo (livreiro) Brito, em novembro de 2024.
RECORDANDO MEU PAI
Como era doce esperar
meu pai, retornando à tardinha do seu trabalho,
com seu andar lento sua cabeça
baixam atenta sempre aos pensamentos...
Sob a camisa branca e o paletó
escuro e impecável, colocavam-se
três dedos que deslizavam suavemente,
como a procurar distrair suas ideias.
Aquela era uma época difícil,
com a guerra mundial repercutindo no mundo,
e preocupando todos os homens diante da sua
insensatez, ou necessidade.
Eu compreendia tudo, apesar dos meus tenros anos,
e assim o esperava todas as tardes, correndo feliz ao
seu encontro,
na esquina da rua, onde primeiro
divisava o se chapéu de feltro cinza.
Gostava de sentir logo seus dedos afagarem os meus
cabelos escuros,
e feliz ficava quando do bolso retirava
uma moeda para que eu compras meus doces...
Fico hoje a lembrar com saudade,
tudo que dele ficou, sua imagem amada, grave e
serena ao mesmo tempo,
sua imensa cultura, seus livros amados,
encadernados,
e ainda hoje, respeitosamente enfileirados, nas
estantes.
“Poema publicado em 1984 na Página Cultura do D.O.E. da Bahia.
Homenagem aos 20 anos do seu falecimento.”
LADEIRA DO CONTORNO
Os infelizes que se amontoam nas escarpas
misturam seus desejos amortecidos aos desertos de betume
E aos rolos da negra fumaça que envenenam a atmosfera...
Ao meio-dia, queimando o asfalto, afadigam-se,
os que sobem e os que descem, conduzindo suas indiferenças
para adiante.
Até quando?
À noite, soberana, inatingível,
navega a lua de agosto,
invadindo os âmagos com seus gélidos raios, feiticeiramente
brancos.
POR UMA MANIFESTAÇÃO
Quero sentir acordada passar esta longa noite
debruçando minhas esperanças sobre o povo na praça.
Quero sentir repercussão nos gritos que o vento sopra lento
que vem de casarios num quadrangular espaço.
Quero sentir o baque das algemas caírem para sempre nas
calçadas
Ver respeitados todos os anseios de liberdade dessa gente,
cujo corpo com a pigmentação da noite
tem sido alvo fácil
de tantas pancadas.
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Página publicada em novembro de 2024
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